quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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CULTURA
Artistas mineiros fazem adaptação de Tennessee Williams
Miguel Anunciação/CRÍTICO
ESPETÁCULOS

Montar um texto qualquer de Tennessee Williams não carece explicações: o mais influente e premiado dramaturgo americano da primeira metade do século passado deixou uma obra vasta e articulada, de personagens muito bem delineados, vários deles inesquecíveis, e enredos contundentes, de alcance profundo. Considerando que «Fala Comigo Como a Chuva» ainda agrega dois atores de primeira grandeza e diversos outros profissionais de inegável quilate na cena teatral mineira, fica bem claro porque essa produção da Cia Teatro Adulto obteve recursos do Prêmio Myriam Muniz/Funarte e da lei estadual de incentivo à cultura. Porque merece.

Com dinheiro da lei, a montagem visitou Varginha e Pouso Alegre no fim de semana passado e deparou-se com casas lotadas nas duas cidades. A partir de hoje, retorna ao cartaz em Belo Horizonte, permanecendo em cartaz durante duas semanas no Galpão Cine Horto. É uma programa indesviável: esta versão dirigida por Cynthia Paulino para a peça curta que Tennessee Williams escreveu em 1927, aproxima a platéia de um jovem casal, vivendo um período especialmente conflituado. Um casal como tantos, do passado ou no presente.Tamanha sintonia com a vida real teria causado mobilizações expressivas na platéia: segundo Cynthia Paulino, que se inicia profissionalmente na direção, durante a temporada de estréia teve gente chorando copiosamente e casais rompendo ou reavaliando relações após ver a peça. Sobretudo mulheres sendo profundamente tocadas pelo embate sem saída dos personagens.

A dosagem incômoda do conflito foi ainda mais sublinhada após a temporada no Espaço Odeon: a encenação voltou à sala de ensaios para perder os excessos, otimizar o ritmo, elaborar e utilizar melhor os silêncios. Neste mesmo período, Samira e Luiz Arthur teriam «ficado ainda mais com cara de casal, assentaram mais os personagens», garante a diretora.

«O Luiz entendeu e maturou mais o seu personagem, um cara que é meio cego à realidade, que não presta atenção, não enxerga o que realmente se passa com a mulher dele. Um cara pra quem a ficha da realidade é difícil cair. E para quem vinha de dois homens muito apaixonados como Luiz, o sonhador de Noites Branca e o 'tapete' de Servidão, realmente era bem mais difícil de captar. Fizemos um trabalho pra ele ficar mais seco e agressivo, sem ser canalha ou cafajeste», comenta Cynthia, que se diz tranqüila em relação aos senões ao seu espetáculo.«Pra mim importa mais a certeza do que fiz, a sinceridade que colocamos no trabalho. Se não é o tipo de espetáculo ou de interpretação, o tema que as pessoas gostam de ver, paciência. Eu mesma só vou ao teatro quando estou afim, não me forço. Nem obrigo ninguém a ir ao meu, vai quem quer», pondera.

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