I
Toma-me.
A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.
Tempo do corpo este tempo, da fome
Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia.
Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas.
E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo.
Devo gritar
Digo para mim mesma.
Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.
Júbilo
Memória
Noviciado
da Paixão
Hilda Hilst
Um comentário:
Olá pessoas! It's me again... Gostaria de compartilhar uma coisinha com vocês:
Meio sem jeito
Pipa Cavalcanti
“Eu te amo”. Tais palavras se perdem de alguma forma entre lágrimas e um céu estrelado, entre um abraço, um beijo e um último suspiro. A próxima cena seria a separação de duas almas, talvez não gêmeas, mas que se amam. Se amam e se perdem ao mesmo tempo.
As mãos se soltam, abraços desfeitos, ainda lágrimas nos olhos. As almas trocam um olhar profundo, talvez o último. Olhos nos olhos e a mente desejando poder ficar ali para sempre, naquele beijo, naquele abraço, naquele céu... Mas de repente, uma das almas recebe um chamado e mesmo desejando ficar ali para sempre sabe que é a hora de partir. A vida a espera.
Agora, o abraço ainda mais apertado, a respiração mais profunda e as lágrimas ainda mais intensas representam o medo de se perder. “A hora é essa”, diz uma das almas, e lentamente tudo vai se desfazendo, mas as lágrimas parecem ser eternas. As almas viram em sentindos opostos e seguem seus caminhos, passo a passo. A vida os espera.
Se almas não sentissem, tudo acabaria ali, mas almas sentem e sofrem o que não deveriam sofrer. Almas sofrem as injustiças da vida. Almas sentem sufocar, arder e doer a saudade; almas amam intensamente. Mas é preciso viver, é preciso superar esta dor, é preciso ser forte.
Almas precisam entender o amor. É preciso entender que o amor foi feito para doer e não sentir dor; almas precisam entender que o amor é longe e perto, que o amor é contradição; almas precisam entender que o amor faz chorar. Amar faz as almas cegas e bobas; almas precisam entender que o amor foi feito para superar. É feito para se amar também, mas para amar e ser amado na medida certa.
Queria eu entender o amor, mas acho que já sofri demais. Almas são feitas para amar enquanto anjos dizem que o amor é assim mesmo... Meio sem jeito.
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