quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

"... ME OCORRE QUE A PECULIARIDADE DA MAIORIA DAS COISAS QUE CONSIDERAMOS FRÁGEIS É O MODO COMO ELAS SÃO, NA VERDADE, FORTES. HAVIA TRUQUES QUE FAZÍAMOS COM OVOS, QUANDO CRIANÇAS, PARA DEMONSTRAR QUE ELES SÃO, APESAR DE NÃO NOS DARMOS CONTA DISSO, PEQUENOS SALÕES DE MÁRMORE CAPAZES DE SUPORTAR GRANDES PRESSÕES, E MUITOS DIZEM QUE O BATER DE ASAS DE UMA BORBOLETA NO LUGAR CERTO PODE CRIAR UM FURACÃO DO OUTRO LADO DE UM OCEANO. CORAÇÕES PODEM SER PARTIDOS, MAS O CORAÇÃO É O MAIS FORTE DOS MÚSCULOS, CAPAZ DE PULSAR DURANTE TODA A VIDA, SETENTA VEZES POR MINUTO, E NÃO FALHAR QUASE NUNCA.
ATÉ OS SONHOS, QUE SÃO AS COISAS MAIS INTANGÍVEIS E DELICADAS, PODEM SE MOSTRAR INCRIVELMENTE DIFÍCEIS DE MATAR."
Introdução de "Coisas Frágeis" - Neil Gaiman
Ed. Conrad

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Photograph of Marcel Duchamp and Eve Babitz
posing for the photographer Julian Wasser
during the Duchamp retrospective at the Pasadena Museum of Art, 1963

...

EU OBRIGUEI-ME A CONTRADIZER-ME

PARA EVITAR CONFORMAR-ME

COM O MEU PRÓPRIO GOSTO.

marcel duchamp

sábado, 13 de dezembro de 2008

Silence

Mark Ryden

...

Reflexões:
1.ª- para os outros eu não era aquele que, para mim, tinha até então julgado ser;
2.ª- não podia ver-me viver;
3.ª- não podendo ver-me viver, permanecia estranho a mim mesmo, ou seja, alguém que os outros podiam ver e conhecer, cada qual à sua maneira, e eu não;
4.ª- era impossível colocar-me diante desse estranho para o ver e conhecer, eu podia ver-me, mas não vê-lo;
5.ª- para mim o meu corpo, se o observava de fora, era como uma aparição, uma coisa que não sabia que vivia e ficava ali, à espera que alguém pegasse nela;
6.ª- tal como eu pegava no meu corpo para ser, por vezes, como me queria e me sentia, também qualquer um podia pegar nele para lhe dar uma realidade à sua maneira;
7.ª- finalmente, aquele corpo, por si mesmo, era de tal forma nada e de tal forma ninguém que um fio de ar podia, hoje, fazê-lo espirrar, amanhã, levá-lo consigo.
Luigi Pirandello
http://theresonly1alice.blogspot.com/

Wedding


Marc Chagall 1910

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

SOMETHING







Trabalho dos alunos de Artes PLásticas do Programa Valores de Minas by Brenda/2008

...

SOMETHING IN THE WAY SHE MOVES
ATTRACTS ME LIKE NO OTHER LOVER
SOMETHING IN THE WAY SHE WOOS ME
I DON´T WANT TO LEAVE HER NOW
YOU KNOW I BELIEVE AND HOW
SOMEWHERE IN HER SMILE SHE KNOWS
THAT I DON´T NEED NO OTHER LOVER
SOMETHING IN HER STYLE THAT SHOWS ME
I DON´T WANT TO LEAVE HER NOW
YOU KNOW I BELIEVE AND HOW
YOU´RE ASKING ME WILL MY LOVE GROW
I DON´T KNOW, I DON´T KNOW
YOU STICK AROUND NOW IT MAY SHOW
I DON´T KNOW, I DON´T KNOW
SOMETHING IN THE WAY SHE KNOWS
AND ALL I HAVE TO DO IS THINK OF HER
SOMETHING IN THE THINGS SHE SHOWS ME
I DON´T WANT TO LEAVE HER NOW
YOU KNOW I BELIEVE AND HOW
George Harrison

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

when wishes explodes

aRT AND gHOSTS

"As coisas se desprenderam de mim.

Eu prolonguei certos desejos;

eu perdi amigos, alguns para a morte...

outros pela incapacidade de atravessar a rua."

Virginia Woolf

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

In her torment

by Nyght Falcon
...
Quando entre nós só havia
uma carta certa
a correspondência
completa
o trem os trilhos
a janela aberta
uma certa paisagem
sem pedras ou
sobressaltos
meu salto alto
em equilíbrio
o copo d’água
a espera do café
Ana Cristina Cesar

A verdade é que não desejava intimidade, desejava conversa. A intimidade é um dos caminhos para o silêncio, e mrs. Crowe abominava o silêncio. Era preciso haver conversa, e que esta fosse geral e que abarcasse tudo. Não devia ser profunda demais nem inteligente demais, pois se progredisse muito nessas direções alguém certamente se sentiria de fora, e ficaria sentado ali, balançando a xícara de chá, sem dizer nada.
Retrato de uma Londrina - Virginia Woolf


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Eu preciso descansar meu coração...


Art and Ghosts
http://artandghosts.typepad.com/
... dar leite quente, um bom banho.
Meu coração, ele anda tão cansado...
Só silêncio, tudo o que mais quero hoje.
Silêncio.
Travesseiro e coberta,
roupa de cama bem limpinha, camisola e meias.
Voz de mãe dizendo 'dorme com Deus',
beijo na testa, luz se apagando.
Cobrir a cabeça e não pensar em mais nada.
Ouvir o mundo aos poucos se afastando,
os olhos pesados.
Eu preciso colocar meu coração pra dormir,
pra descansar,
pra bater mais devagar.
Nem que seja só por um pouquinho.
Cy

sábado, 6 de dezembro de 2008

Sereníssima

by Maggie Taylor


Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E você vai logo ver o que acontece
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas
Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades,
Tínhamos a idéia mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.
Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.
Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho
Mas não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar.
Minha laranjeira verde, porque está tão prateada?
Foi da lua desta noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo.
Renato Russo
De tarde quero descansar, chegar até a praia e ver
Se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora

Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção

Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?

Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo
E quando eu vejo o mar,
Existe algo que diz,
Que a vida continua
E se entregar é uma bobagem

Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim
Quero ser feliz ao menos
Lembra que o plano era ficarmos bem?

- Ei, olha só o que eu achei: cavalos-marinhos
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
VENTO NO LITORAL - LEGIÃO URBANA

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

GARGALHADA ( GUIMARÃES ROSA )


Quando me disseste que não mais me amavas,
e que ias partir,
dura, precisa, bela e inabalável,
com a impassibilidade de um executor,
dilatou-se em mim o pavor das cavernas vazias...
Mas olhei-te bem nos olhos,
belos como o veludo das lagartas verdes,
e porque já houvesse lágrimas nos meus olhos,
tive pena de ti, de mim, de todos,
e me ri
da inutilidade das torturas predestinadas,
guardadas para nós, desde a treva das épocas,
quando a inexperiência dos Deuses
ainda não criara o mundo...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Love me Tender (words & music by vera matson - elvis presley)

Love me tender, Love me sweet, Never let me go. You have made my life complete, And I love you so. Love me tender, Love me true, All my dreams fulfilled. For my darlin I love you, And I always will. Love me tender, Love me long,Take me to your heart. For its there that I belong, And well never part. Love me tender, Love me dear, Tell me you are mine. Ill be yours through all the years, Till the end of time.
(when at last my dreams come true Darling this I know Happiness will follow you Everywhere you go).

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

CONTATO IMEDIATO


Peço por favor
Se alguém de longe me escutar
Que venha aqui pra me buscar
Me leve para passear

No seu disco voador
Como um enorme carrossel
Atravessando o azul do céu
Até pousar no meu quintal

Se o pensamento duvidar
Todos os meus poros vão dizer
Estou pronto para embarcar
Sem me preocupar e sem temer

Vem me levar
Para um lugar
Longe daqui
Livre para navegar
No espaço sideral
Porque sei que sou

Semelhante de você
Diferente de você
Passageiro de você
À espera de você

No seu balão de são joão
Que caia bem na minha mão
Ou numa pipa de papel
Me leve para além do céu

Se o coração disparar
Quando eu levantar os pés do chão
A imensidão vai me abraçar
E acalmar a minha pulsação

Longe de mim
Solto no ar
Dentro do amor
Livre para navegar
Indo para onde for
O seu disco voador
(Arnaldo Antunes)
...
Estamos todos trabalhando muito em um monte de outros projetos.
"Fala comigo como a chuva" volta , em janeiro de 2009.
E de vez em quando, assim, do nada, 'no meio do redemoinho', bate uma
saudade danada.
A água. O texto. A estória que construimos juntos.
Nossas músicas. Esses dois. Nós quatro.
Bom saber que temos uma turma tão legal e apaixonada pelo que faz.
...
Então é isso. Saudade da mulher e do Homem. Demais.
Cy

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

eu sabia
que mesmo depois que me
despedisse e fechasse
a porta

e descesse todos
os degraus troteando
a escada em espiral

e entrasse no táxi, boa-noite
siga reto, por favor, à
direita, o troco, obrigada
e acenasse para o porteiro

mesmo depois que eu apertasse
o botão do elevador, procurando
o chaveiro na bolsa

abrisse a porta de casa
tirasse os sapatos, os brincos
escovasse os dentes, os cabelos

mesmo depois que eu
dormisse e sonhasse e até a hora
em que acordasse, você ainda estaria

com os olhos
presos
à porta.

Alice SantAnna

sábado, 18 de outubro de 2008

E eu vou passear pela praia...

Jock Sturges
Porque há desejo em mim, é tudo cintilância.
Antes, o cotidiano era um pensar alturas
Buscando Aquele Outro decantado
Surdo à minha humana ladradura.
Visgo e suor, pois nunca se faziam.
Hoje, de carne e osso, laborioso, lascivo
Tomas-me o corpo.
E que descanso me dás
Depois das lidas.
Sonhei penhascos
Quando havia o jardim aqui ao lado.
Pensei subidas onde não havia rastros.
Extasiada, fodo contigo
Ao invés de ganir diante do Nada.
DO DESEJO Hilda Hilst

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Canção na plenitude - Lya Luft

Michael Borremans

Não tenho mais os olhos de menina nem corpo adolescente,
e a pele translúcida há muito se manchou.
Há rugas onde havia sedas,
sou uma estrutura agrandada pelos anos e o peso dos fardos bons ou ruins.
(Carreguei muitos com gosto e alguns com rebeldia.)
O que te posso dar é mais que tudo o que perdi:
dou-te os meus ganhos.
A maturidade que consegue rir quando em outros tempos choraria,
busca te agradar quando antigamente quereria apenas ser amada.
Posso dar-te muito mais do que beleza e juventude agora:
esses dourados anos me ensinaram a amar melhor,
com mais paciência e não menos ardor,
a entender-te se precisas,
a aguardar-te quando vais,
a dar-te regaço de amante e colo de amiga,
e sobretudo força — que vem do aprendizado.
Isso posso te dar:
um mar antigo e confiável cujas marés — mesmo se fogem — retornam,
cujas correntes ocultas não levam destroços
mas o sonho interminável das sereias.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

sou esta areia que se esvai
entre o cascalho e a duna
a chuva de Verão chove-me na vida
sobre mim a vida que me foge persegue-me
e vai acabar no dia do começo

caro instante vejo-te
nesta névoa que se levanta
quando não tiver de pisar estas longas soleiras movediças
e viver o espaço de uma porta
que se abre e que se fecha
Samuel Beckett

sábado, 4 de outubro de 2008

UMA HISTÓRIA DE AMOR


O Jardineiro e a Fräulein


Menino, ele de longe olhava os pescadores nos seus barcos levados pelo vento. Pensava que o mar não tem fim. Pensava que os pescadores eram felizes porque não precisavam plantar peixes para colher depois. O mar era generoso: ele mesmo plantava os peixes que os pescadores só faziam colher com as suas redes. Tinha inveja dos pescadores. Ele era filho de agricultores. Tinha de plantar para colher. Diferente do mar, a terra tinha fim. Todos os pedaços de terra, os menores, os mais insignificantes, todos já estavam sendo cultivados. Os pescadores, se quisessem mais, bastava-lhes navegar mar a dentro. Mas os agricultores não podiam querer mais. A terra chegara ao fim. Quem quisesse mais terra para cultivar teria que sair da terra conhecida e ir em busca de outras terras, além do mar sem fim.


Ele já ouvira os mais velhos falando sobre isso - um país do outro lado do mar - tão longe que lá era noite quando no seu país era dia - país de gente de rostos diferentes, de comida diferente, de língua diferente, de religião diferente, de costumes diferentes. Tudo era diferente. Menos uma coisa: a terra era a mesma e os seus segredos, eles os conheciam.


E foi assim que chegou o dia em que ele, adolescente, seus irmãos e seus pais, entraram num navio que os levaria ao tal país - como era mesmo o seu nome? Buragiro... Era assim que eles, japoneses, conseguiam falar o nome Brasil...


No Brasil, o jovem japonês conseguiu trabalho na casa de uma família de alemães. Família rica, casa de muitos criados e criadas. Ele não falava português nem alemão. Mas não importava. Seu trabalho era cuidar da horta e do jardim. E a língua da terra e das plantas ele conhecia muito bem. A prova disso estava nos arbustos artisticamente podados segundo a inspiração milenar das bonsais, nos canteiros explodindo em flores, nas hortaliças que cresciam viçosas. E foi assim que, na sua fiel e silenciosa competência de jardineiro e hortelão, ele passou a ser amado pelos seus patrões.


Mas ninguém nem de longe suspeitava os sonhos que havia na alma do jardineiro. Quem não sabe pensa que jardineiro só sonha com terra, água e plantas. Mas os jardineiros têm também sonhos de amor. Jardins, sem amor, são belos e tristes. Mas quando o amor floresce o jardim fica perfumado e alegre. Pois esse era o segredo que morava na alma do jardineiro japonês: ele amava uma mulher, uma alemãzinha, serviçal também, todos a tratavam por Fräulein. Cabelos cor de cobre, como ele nunca havia visto no seu país, pele branca salpicada de pintas, olhos azuis, e um discreto sorriso na sua boca carnuda que se transformava em risada, quando longe dos patrões. Era ela que lhe trazia o prato de comida, sempre com aquele sorriso...


E ele sonhava. Sonhava que suas mãos acariciavam seus cabelos e seu rosto. Sonhava que seus braços a abraçavam e os braços dela o abraçavam. Sonhava que sua boca e sua língua bebiam amor naquela boca carnuda... E a sua imaginação fazia aquilo que faz a imaginação dos apaixonados: se imaginava num ritual de amor, delicado como a cerimônia do chá, tirando a roupa da Fräulein e beijando a sua pele... A imaginação de um jardineiro japonês apaixonado é igual à imaginação de todos os apaixonados...


Mas era apenas um sonho. Olhava para seu corpo atarracado, para sua roupa rude de jardineiro, para suas mãos sujas de terra, para seus dedos ásperos como pedras. A Fräulein pertencia a um outro mundo distante do seu mundo de jardineiro.


Vez por outra ele lhe oferecia uma flor quando ela lhe trazia a comida. Ela sorria aquele sorriso lindo de criança, agradecia, e voltava saltitando para a casa, com a flor na mão. Mas havia aquelas ocasiões em que ela tomava a flor e a levava ao seu nariz sardento para sentir o perfume. As pétalas da flor então roçavam os seus lábios. E o seu corpo de jardineiro estremecia, imaginando que a sua boca estava tocando os lábios dela.


Mas o seu amor nunca saiu da fantasia. Ninguém nunca soube.


Os anos passaram. Ele ficou velho. A Fräulein também envelheceu. Mas o amor não diminuiu. Para ele, era como se os anos não tivessem passado. Ela continuava a ser a meninota sardenta. O amor não satisfeito ignora a passagem do tempo. É eterno.


Chegou, finalmente, o momento inevitável: velho, ele não mais conseguia dar conta do seu trabalho. Seus patrões, que o amavam profundamente, pensaram que o melhor, talvez, fosse que ele passasse seus últimos anos num lar para japoneses idosos, uma grande área de 10 alqueires, bem cultivada, com pássaros, flores e um lago com carpas e tilápias. Ele concordou. Visitou o lar mas, por razões desconhecidas, não quis viver lá. Achou preferível viver com parentes, numa cidade do interior. Mas o fato é que os velhos são sempre uma perturbação na vida dos mais novos. São, na melhor das hipóteses, tolerados. E a sua velhice se encheu de tristeza.


Um dia, movido pela saudade, resolveu visitar a casa onde passara toda a sua vida e onde vivia a Fräulein. Mas aí lhe contaram que ela fora internada num lar para idosos alemães. Estava muito doente. Foi então visitá-la. Encontrou-a numa cama, muito fraca, incapaz de andar.


E então ele fez uma coisa louca que somente um apaixonado pode fazer: resolveu ficar com ela. Passou a dormir ao seu lado, no chão. Passou a cuidar dela como se cuida de uma criança. (Fico comovido pensando na sensibilidade dos diretores daquela casa que permitiram esse arranjo que não estava previsto nos regulamentos.)


A Fräulein estava muito fraca. Não conseguia mastigar os alimentos. Não conseguia comer. Aconteceu, então, um ato inacreditável de amor que os que não estão apaixonados jamais compreenderão: o jardineiro passou a mastigar a comida que ele então colocava na boca da agora ‘sua’ Fräulein. Os dirigentes da casa, acho que movidos pelo amor, fizeram de conta que nada viam.


Nunca ninguém viu, nunca ninguém me contou. Imaginei. Imaginei que quando estavam sozinhos, sem ninguém que os visse o jardineiro encostava seus lábios nos lábios da Fräulein, e assim lhe dava de comer... Assim o fazem os namorados apaixonados, lábios colados, brincando de passar a uva de uma boca para a outra...


E assim, ao final da vida, o jardineiro Hiroshi Okumura beijou sua Fräulein como nunca imaginara beijar... O amor se realiza de formas inesperadas.


Esta é uma história verdadeira. Aconteceu. Foi-me contada pela Tomiko, amiga que trabalha com idosos (aquela que me aconselhou a comprar um blazer vermelho). Ela conheceu pessoalmente o jardineiro.


No meu sítio eu planto árvores para meus amigos que morrem. Pois vou plantar uma cerejeira e uma camélia vermelha, uma ao lado da outra: o Jardineiro japonês e a sua Fräulein...


(Rubem Alves - Correio Popular, Caderno C, 07/01/2001)

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Amor, então, também, acaba?


Não, que eu saiba.

O que eu sei é que se transforma numa matéria prima

que a vida se encarrega

de transformar em raiva

Ou em rima

Paulo Leminski

terça-feira, 30 de setembro de 2008

CASAMENTO

Portrait of Margrethe Mother & Edward Weston by Imogen Cunningham 1922

Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como "este foi difícil"
"prateou no ar dando rabanadas"
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Texto extraído do livro "Adélia Prado - Poesia Reunida", Ed. Siciliano

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Muitas vezes perdemos a possibilidade de felicidade de tanto nos prepararmos para recebê-la. Por que então não agarrá-la toda de uma vez?
Jane Austen

sábado, 27 de setembro de 2008

A gente AMA MUITO tudo isso!

Farra I

Farra II

Farra III

'Festa linda' farra IV

Farra V

Regininha e 'Las Bitche's'

Jantar & Comilança I

Jantar & Comilança II

Jantar, comilança & dúvida na escolha do prato III

Jantar, comilança e mais dúvida na escolha do prato IV

Jantar e ... V

Jantar e amizade VI

Jantar e 'fumar só lá fora' VII

Jantar e 'fumando lá fora' VIII

Jantar in love IX

Jantar mais love X

Jantar mais love XI

Jantar mais muito love XII

Jantar mais funny love XIII

E... Viva la vida louca! Sim! Sim!