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Miguel Anunciação
CRÍTICO/ESPETÁCULOShttp://www.hojeemdia.com.br/Graças, principalmente, à qualidade e à diversidade da realização dos grupos, o teatro feito em Minas despertou estupendo interesse de público e crítica nas últimas edições do Festival de Curitiba. Quem nunca esteve lá não pode imaginar o quanto. Infelizmente, a edição deste ano reserva menos espaço à nossa criação: apenas um espetáculo produzido aqui integra a Mostra Contemporânea da 17ª edição do mais divulgado festival de artes cênicas do país, que este ano acontece na capital do Paraná entre 17 e 29 de março. Apenas “Histórias de Chocar”, a adaptação de Adélia Nicolete para a novela/diário “Ensaios de Amor”, no qual o filósofo franco-suíço Alain de Botton descreve a relação vivida no palco pelos atores Paulo Azevedo e Rita Clemente.
Mineiro também, destaque da programação da Mostra de 2008 com “Salmo 91”, Rodolfo Vaz retorna este ano a Curitiba com “Por um Fio”, adaptação de 11 histórias do título homônimo do doutor e escritor Drauzio Varella. O texto aborda o quanto as pessoas tomadas pela iminência de morte transformam radicalmente a maneira de se comportar. Premiado com o Shell/SP pela memorável interpretação do travesti Veronique e o ator (afastado) do grupo Galpão, Rodolfo contracena com Regina Braga na montagem dirigida por Moacir Chaves.
Radicada em São Paulo há alguns anos, Yara de Novaes dirige “A Mulher que Ri”, um texto de Paulo Santoro, talento ligado ao CPT de Antunes Filho. Com cenografia e figurinos de outro mineiro, André Cortez, e um elenco formado por Eloisa Elena, Fernando Alves Pinto e Plínio Soares, o enredo da peça descreve como um homem recorda os bons momentos vividos em família, quando ainda era jovem. Também instalado em SP, só que há mais tempo ainda, Gabriel Villela dirige sua versão de “Calígula”, dramaturgia de Albert Camus.
“Congresso Internacional do Medo”, do grupo Espanca!, e um ensaio aberto do novo espetáculo do Galpão também foram cogitados. A saída da Petrobras do rol de patrocinadores teria justificado o corte. Além dos quatro convidados, mais 21 espetáculos integram a Mostra Contemporânea deste ano, cinco deles são estreias.
Após alguns anos priorizando a criação em grupo - e só o valor desta escolha já desautorizaria a insinuação que o festival viria perdendo importância -, a programação reserva espaços para os elencos e para algumas celebridades. Marília Gabriela e Bibi Ferreira, por exemplo. Marília leva “Aquela Mulher”, o monólogo escrito pelo escritor angolano José Eduardo Agualusa; e Bibi leva “Às Favas com os Escrúpulos”,comédia extremamente mal falada pela crítica.“É um espetáculo que foge realmente ao padrão da programação, mas resolvemos escalá-lo como homenagem a Bibi, a única diva do teatro nacional que ainda não havia participado do festival”, afirma Leandro Knopfholz, coordenador do evento, que escala bem comentadas montagens de grupos e criadores estabelecidos principalmente no eixo Rio/São Paulo. Representam a cena carioca a Cia dos Atores (RJ), que desloca a Curitiba quatro exemplares da suas “Autopeças”, cenas escritas, dirigidas e/ou interpretadas por seus atores; a Cia Armazém (RJ) vai exibir a elogiadíssima “Inveja dos Anjos”; e a Cia Os Dezequilibrados apresenta “Memória Afetiva de um Amor Esquecido”; e Inez Vianna defende “A Mulher que Escreveu a Bíblia”.
De SP, destaque absoluto para “Rainhas”, direção de Cibele Forjaz para o clássico de “Mary Stuart”. Com Izabel Teixeira e Georgette Fadel, foi eleito pela Folha de SP como o melhor programa teatral da temporada paulistana em 2008, junto com “Aqueles Dois”, da Cia Luna Lunera.
Raramente escalados pelos grandes festivais, três montagens nordestinas aguçam atenções. Duas são do Bagaceira, de Fortaleza (“Tá Namorando, Tá Namorando” e “Lesados”), grupo com pesquisa de linguagem, realmente; e “Muito Barulho por Quase Nada”, que Eduardo Moreira, do grupo Galpão, dirigiu há muitos anos para o grupo Clowns de Shakespeare, de Natal (RN). Do exterior, oferta escassa em Curitiba, vem a chilena “Sin Sangre”, cena que mescla teatro e cinema.
No que tange ao teatro,o festival beira os limites da saturação: este ano escala 65 espaços teatrais (dos oito novos, o Positivo oferece 2,2 mil poltronas) e mais de 300 espetáculos.
Só no Fringe são 290 montagens, escolhidas entre 498 inscrições. São números recordes: Curitiba nunca registrou demandas tão expressivas na mostra paralela. Algumas seguirão de Minas. Pegam a estrada “Fala Comigo Como a Chuva”, “A Morte de DJ em Paris” (solo de Luiz Arthur), “O Lustre” e “Dois de Novembro”, os dois últimos em cartaz na Campanha .Sem ter como crescer mais, o festival investiria “verticalmente”: a programação desta ano escala humoristas (o Risorama completa sete edições), números circenses (o 2º Mish Mash) e os primeiros Gastronomix (encontros gourmets) e PUC Idéias (para debates) e shows de Trio Mocotó e Farora Carioca. “Nossa intenção é tornar Curitiba uma festa”, diz Leandro.
Perceba como no “www.festivaldecuritiba.com.br”.