quarta-feira, 1 de abril de 2009

Teatro mineiro volta a brilhar em Curitiba

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Miguel Anunciação*
Crítico/Espetáculos

Novamente, o teatro feito em Minas se impôs fora de casa: entre os dez espetáculos mais votados pelos jornalistas que cobriram a 18ª edição do Festival de Curitiba, três mantêm vínculos estreitos com a produção local: “A Mulher que Ri”, dirigido em São Paulo por Yara de Novaes, foi o segundo mais votado entre as 26 escalados pela Mostra Principal; “Fala Comigo Como a Chuva”, da Cia Teatro Adulto, e “Tropeço”, da Tato Criação Cênica, foram, respectivamente, primeiro e segundo mais votados do Fringe, a mostra paralela do festival de maior visibilidade do país.
Não é de hoje, entretanto, que o teatro mineiro se destaca tanto em Curitiba: também já estiveram por lá e causaram enorme repercussão “Coisas Invisíveis”, da Cia Clara, e “Por Elise”, do grupo Espanca!, eleitos melhores nos anos em que integraram o Fringe. Em 2008, montagens daqui causaram ainda mais impacto: “Aqueles Dois”, da Cia Luna Lunera, foi apontado o melhor da Mostra Principal; “Dias Felizes - Suíte em Nove Movimentos” (cartaz da próxima sexta-feira, às 21 horas, no Sesi/Uberaba) e “Rubros: Bandeira - Vestido - Batom”, da Cia Bárbara.
O sucesso obtido outra vez este ano, portanto, tem precedentes, é fruto de uma construção. Embora a Tato Criação Cênica, atualmente radicada em Curitiba, tenha começado aqui, quando Dico Ferreira integrava a Cia Catibrum e Katyane Negrão fazia Artes Cênicas na UFOP de Ouro Preto. Eles mesmos assumem a vinculação e a débito com o que aprenderam aqui.
Para quem se destacou no Fringe, caso de “Fala Comigo...”, valeram despesa e esforço para estar na capital paranaense. Sem qualquer amparo financeiro ou logístico do festival ou dos órgãos de cultura de Minas ou de BH. Destacar-se no Fringe costuma reverter em prestígio, em convites para apresentações. O Espanca! e a Luna se notabilizaram nacionalmente assim. Claro, ser incluído numa lista de melhores é algo subjetivo, passível de ressalvas. “O Beijo”, produção paranaense apontada como quinta melhor da paralela, parecia mais interessante pelos teores de entusiasmo e irreverência juvenis, mas carente de potência de pensamento. Discutível também se “A Mulher Que Ri” seria realmente melhor que “Inveja dos Anjos”, eleita a terceira melhor da Principal. O próprio Paulo de Moraes tende a achar que sua nova montagem deva ser a melhor que a Armazém realizou nos últimos anos. Já “A Mulher Que Ri” talvez nem Yara considere assim, tão especial.
Nenhuma escolha, é claro, está isenta de equívoco. Quem acompanha teatro sabe da estatura da Cia dos Atores (de “Ensaio.Hamlet” e “Melodrama”), mas “Auto Peças” é, no mínimo, irregular. Do feixe de quatro trabalhos dirigidos (ou interpretados) pelos seus atores, dois são defensáveis. Sobretudo “Apropriação”, que Bel Garcia dirigiu. Mas a mescla do teatro com o cinema experimentado em “Sin Sangre”, única atração estrangeira e eleita como quinta melhor da Principal, não pareceu nem um pouco satisfatória. Aliás, muito pelo contrário.

(*) O jornalista viajou a convite do Fringe

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