sábado, 7 de junho de 2008



" ... todas as lembranças do tempo em que ela estava enamorada dele e que até aquele dia conseguia manter invisíveis nas profundezas de seu ser, iludidas por aquela brusca revelação do tempo de amor que lhes parecia ter voltado, despertaram e subiram em revoada para lhe cantar apaixonadamente, sem piedade para com seu atual infortúnio, os refrões esquecidos da felicidade.
Em vez de expressões abstratas 'tempo em que eu era feliz', 'tempo em que eu era amado' que tantas vezes pronunciara até então e sem muito sofrer, pois sua inteligência só encerrara ali algumas pretensas amostras do passado que dele nada conservavam, ele reencontrou tudo o que havia fixado para sempre a específica e volátil essência daquela felicidade perdida; reviu tudo (...) . Naquele momento satisfazia ele uma curiosidade voluptuosa, conhecendo os prazeres das criaturas que vivem pelo amor. "

No caminho de Swann / Em busca do Tempo Perdido
Marcel Proust

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