"Se me permitem divagar sobre meu livro, é que não se trata em nenhum grau de uma obra de raciocínio, é que os seus mais ínfimos elementos me foram fornecidos pela minha sensibilidade, que os encontrei no fundo de mim mesmo, sem os compreender, tendo tanto trabalho em convertê-los em algo inteligível, como se eles fossem tão estranhos ao mundo da inteligência, como dizer?, como um motivo musical. Parece-me que vocês podem estar pensando que se trata de meras sutilezas. Oh, não! Eu lhes asseguro: ao contrário, de realidades. O que não tivemos de esclarecer nós mesmos, o que estava claro antes de nós (por exemplo, idéias lógicas) tudo isso não é realmente nosso, não sabemos nem mesmo se é real. É apenas parte do 'possível' que elegemos arbitrariamente.
Aliás, vocês sabem, isso se vê imediatamente no estilo.
O estilo não é de maneira alguma um enfeite como crêem certas pessoas, não é sequer uma questão de técnica, é - como a cor para os pintores - uma qualidade da visão, a revelação do universo particular que cada um de nós vê, e que não vêem os outros. O prazer que nos dá um artista é de nos fazer conhecer um universo a mais."
Entrevista concedida por Marcel Proust ao Jornal Le Temps em 14 de novembro de 1913, antevéspera da publicação de No caminho de Swann Vol 1 - Em busca do Tempo Perdido
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