"Ao mesmo tempo que me identifico "sinceramente" com a infelicidade do outro, o que leio nessa infelicidade é que ela se desenrola sem mim, e que, sendo infeliz por si mesmo, o outro me abandona: se sofre sem que eu seja a causa, é que não conto para ele: seu sofrimento me anula na medida em que o constitui fora de mim mesmo. Isso posto, reviravolta: já que outro sofre sem mim, porque sofrer em seu lugar? Sua infelicidade leva-o para longe de mim, nada posso senão me esbaforir correndo atrás dele sem nunca poder ter a esperança de alcançá-lo, entrar em coincidência com ele. Afastemos-nos pois um pouco, realizemos o aprendizado de uma certa distância. Que surja a palavra recalcada que assombra aos lábios de todo sujeito logo que este sobrevive à morte do outro: Vivamos! Sofrerei pois com o outro, mas sem exagerar, sem me perder. A esta conduta, ao mesmo tempo muito afetiva e muito vigiada, muito amorosa e muito policiada, podemos dar um nome: é a delicadeza." Barthes
Falamos tanto em não conseguir se soltar das coisas as quais nos sentimos presos, das coisas que parecem imutáveis. Mas, faço um voto à liberdade. Essa que só se consegue assumindo a angústia que a acompanha. Faz pouco mais de um ano que me liberto das coisas que não quero mais com boas conversas, bons silêncios ou bons médicos... Realizar o aprendizado da distância. Não se perder na infelicidade do outro. "Porque sendo infeliz por si mesmo, o outro me abandona". Mas, sim, Vivamos!
Acho que já desejei que a Mulher fosse embora, para a praia e sob um nome falso...
Samira
Nenhum comentário:
Postar um comentário