" Arrancou a última página do caderno, mordeu o lápis, olhou para o teto e decidiu que precisava realmente escrever ou sua cabeça com certeza iria explodir. Ele era assim mesmo, certas vezes ficava inquieto de um jeito que parecia doido varrido, coçava a cabeça, cantarolava músicas que nem conhecia, era cheio de cenas. Apertou bem os olhos, olhou para o vaso de violetas que precisava molhar logo que terminasse o que agora estava começando a fazer e escreveu:
- Eu não estou sabendo aceitar a falta que não estou fazendo para você, é isso. Muitas vezes penso que eu poderia ser um prediozinho indefeso, daqueles japoneses, um prediozinho de poucos andares indefeso diante das patas de Godizilla, é isso que eu sou... Nadica de nada. Sei que hoje você está cheia de novos horários e compromissos e novos amigos e uma vida meio que novinha em folha e acho legal e fico orgulhoso mesmo mas ao mesmo tempo fico puto porque parece que nessa sua vida nova tão interessante não há lugar pra mim. Não faço falta, se sumisse hoje você só perceberia quando, sei lá, talvez demorasse muito. Penso nas nossas horas, penso muito em você e queria mesmo que você estivesse pensando em mim agora que escrevo e só consigo ver que por mais que eu queira nunca consigo não estar pensando na falta que sinto do seu riso, das suas piadas mesmo muito bobas e da forma como fala dos outros sem pensar ou chora por qualquer bobagem e tudo isso que sei de você . Fico torcendo pra te querer menos e daí penso que seria mais uma derrota que uma vitória minha, que perder você no meio desta vida seria uma estupidez. Eu, na verdade, queria ser um único na sua vida, assim como existem os amigos, eu queria que existissem os 'únicos' e eu fosse o seu... É isso. Vontade de ouvir músicas que te tragam pra perto de mim, hoje estou nos meus 'aqueles dias tristes'.
Pronto, estava escrita a carta. Dobrou com cuidado, colocou no envelope e guardou no meio de tantas outras que havia escrito nos últimos dias... Ela estava tão ocupada, não teria tempo para ler. Fechou a gaveta, já se sentia até mais aliviado e resolveu que deveria sair e tentar conhecer gente nova, torcendo pra que no meio dessa gente ninguém se parecesse com ela, nem de longe, porque isso poderia doer. Porra de amizade.
Pegou as chaves, fechou a porta e saiu."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Adorei a carta...
Talvez a Mulher sorrise e talvez ela chorasse. Ai se fôsse!
Postar um comentário