Para Cynthia, Luiz Arthur e Paolo.
A dois dias da estréia, do encontro marcado. Cada processo tem um gosto e a gente sente ele forte na boca dois dias antes da estréia. Alguns são parecidos, outros diferentes. Mas, esse gosto do “Fala” é um que nunca tinha sentido. Pela primeira vez, sinto calma. Me sinto, de antemão, realizada. Que me falta agora até nome...’Muita coisa importante falta nome...’. Acho que passei a vida inteira procurando uma(s) verdade(s) pela qual possa viver e morrer. Daí as escolhas, daí o porque dessa angústia que sempre bateu no meu osso esterno. As escolhas. Mas daí que eu percebi, acho que foi neste processo, que essa era Angústia companheira, que me move, que me faz me buscar, que me permite ser livre. Ai, a condição humana! Acho que me busquei muito em “Fala”, mergulhando profundo, como pedia essa Mulher e esse universo cheio de coisas que falta nome. Em alguns momentos não foi fácil, essa busca serviu pra tirar tanto chãozinho que parecia firme, uma mistura de medo, espanto, terror, exaltação, náusea e sublimidade (um desespero sublime, coisas que a arte faz). Não esperava sair ilesa (em teatro?), mas também não esperava tanta agitação interna. E, acho que foi semana passada, num dia de ensaio que eu vi nosso trabalho. Eu vi a chuva caindo, eu olhei nos olhos de todos ao meu redor sem que eles tomassem conta, eu tive um flashe de 2 minutos de todo o processo e eu achei uma VERDADE PELA QUAL POSSO VIVER E MORRER. Esta calma que vem desta sensação de coerência com a “verdade”. Essa realização vem da coerência do nosso processo, da sinceridade, da autenticidade e legitimidade do que ele foi. Acho que éramos quatro almas angustiadas, ao início. Buscando algo pra acreditar. Cada um no seu processo, na sua alma particular de questões, mas buscando, buscando, buscando. E, Cy, Toso e Paolo: está tudo aí. Cy, você achou sua Voz, que é verdadeira e sensível, harmoniosa e forte, bonita e Única como você. Toso, você achou um Homem que poucos homens sabem ser, e também por isso sempre quis sim trabalhar com você! Paolito, você, pra mim, achou seu lugar! Criando e participando ativamente, passionalmente e sempre generosamente. E, obrigada. Obrigada pelo amor, carinho, atenção. Eu hoje admiro ainda mais cada um de vocês, que conheço a tanto tempo... E, temos muito pela frente, muito, mas hoje, a dois dias da estréia, eu sinto muita serenidade para sentar naquela cadeira durante as três brancas de neve. E, olha que esta temporada é só o início de muita coisa melhor ainda. Mas, esse gosto doce na boca hoje é o que importa. Gosto raro. E isso não tem preço.
Salsa
quinta-feira, 29 de maio de 2008
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